Luís Cláudio Rodrigues Ferreira ainda estava na infância quando se encantou com a potência das palavras “solidariedade, fraternidade, luz e espírito”. Ele tinha apenas 7 anos, quando começou a ler as primeiras páginas de uma bíblia que havia ganhado da família, descobrindo nos capítulos e versículos do livro sagrado, o valor à vida.
Talvez seus pais nem soubessem, mas já estavam semeando naquele jovem rapaz, um sentimento para todos, porém, praticado por poucos: o amor ao próximo.
Munido dessa compaixão, já aos 14 anos, começou a liderar um grupo de jovens da igreja que frequentava e, muito rapidamente, concentrou-se em dirigir as ações de responsabilidade social realizadas por eles.
A primeira experiência à frente do grupo foi desafiadora: uma enchente havia assolado diversas famílias que moravam próximas ao Córrego do Onça, localizado na região norte de Belo Horizonte, Minas Gerais. Os moradores tiveram que sair de suas casas e foram abrigados em um galpão. Mães e pais de família, crianças, jovens e adultos: todos reunidos em um mesmo espaço e com poucas condições para se reerguer.
Uma corrente de solidariedade se formou para ajudar a devolver, minimamente, dignidade às famílias. Embora fosse uma tragédia anunciada, faltava o básico para as vítimas. Foi então que o grupo resolveu fazer visitas recorrentes ao local, levando mantimentos, materiais de higiene pessoal, além de roupas, colchões e cobertores.
Todos esses passos eram, na verdade, o prelúdio de algo maior que Luís Cláudio estava por realizar.
A creche Santo Tomaz de Aquino
Um pouco mais tarde, em 1992, nasce a Editora FÓRUM, empresa que era o grande sonho do jovem e então vendedor de livros. Ela, no entanto, não nasceu sozinha. Ao completar seu primeiro ano e já melhor estabelecida financeiramente, a FÓRUM ganhou uma “irmã”.
Luís Cláudio liderou a construção da creche Santo Tomaz de Aquino, em Belo Horizonte. Sem fins lucrativos, recebe crianças de 1 a 6 anos, oferece cuidados e educação básica auxiliando as crianças em sua formação.
“O Instituto Semearte que hoje ganha cada vez mais forma, nasceu de uma intenção original de aproximadamente trinta anos atrás e, antes disso, na minha história pessoal. O que tomou corpo em 2021 e com ações e atuações diversas em 2022, está no DNA da FÓRUM”, afirma se referindo à construção da creche.
Ainda que o apoio de algumas instituições para a realização das obras fosse escasso, isso não parou o desejo de ver a creche construída. Luís Cláudio visitou bancos, empresas e a própria prefeitura da cidade. Mas boa parte dos recursos veio da jovem empresa montada um ano antes. A FÓRUM foi a grande financiadora do projeto.
Assim, aos poucos, as salas e demais ambientes ganharam forma. Mas a creche só foi inaugurada 3 anos depois do início das obras, em 1996. O início foi desafiador para manter, financeiramente, toda a qualidade dos serviços que as crianças mereciam. Isso, porém, nunca foi motivo para desistir.
Já em 1998, a prefeitura assumiu o controle da unidade. Também foi criada uma autogestão da creche, com a participação da comunidade e amigos de Luís Cláudio, que o apoiaram desde o início da construção.
Hoje, os números de atendimento da creche impressionam. Mais de 4.000 crianças já passaram por lá, recebendo educação, alimentação e, mais do que isso, acolhimento.
Uma nova fase
2019 foi um marco para a FÓRUM. Ano em que precisou iniciar a recuperação judicial que havia solicitado à justiça, após o acúmulo de dívidas na empresa. Porém, foi nesse mesmo período que Luís Cláudio teve um “despertar espiritual”, invadido por um sentimento de gratidão.
“Fui surpreendido por muita gratidão, porque raríssimos são os casos na ‘literatura empresarial’ de uma empresa sobreviver a uma hecatombe que é uma recuperação judicial. A estatística é de 3 a 5% de empresas que continuam após esse processo”, conta emocionado.
Nesse mesmo ano, dedicou-se a conhecer vários projetos sociais de Belo Horizonte. Todas as sexta-feiras visitava um lugar novo: creches, escolas, lar de idosos, casas de reabilitação, etc. Segundo ele, essa era uma forma de não terceirizar os próprios olhos e de sentir ou não a presença de Deus em cada um dos projetos. E foi a partir daí que decidiu fazer doações recorrentes para aqueles que o despertaram para seu propósito.
A experiência adquirida nessa fase o capacitaria para o próximo grande desafio da sua carreira: a pandemia de COVID-19. Após os primeiros relatos acerca do vírus serem noticiados, 90% dos profissionais da FÓRUM foram enviados para suas casas, sem saber como as atividades continuariam e se continuariam.
Inspirado pelas teorias de ESG e responsabilidade social, Luís Cláudio e sua sócia e diretora-executiva da empresa, Maria Amélia, que também é sua filha, decidiu conectar a editora ao propósito que queima em seu coração: o valor à vida.
A atuação do Semearte, nesse mesmo período, ganhou muito mais força e potência.
“A vida inteira semeamos livro, seja ele físico, digital, nas suas diversas formas. E o livro é o que dá corpo ao conhecimento. E o conhecimento é a matéria-prima para que a gente faça um trabalho social, ambiental e de governança em todos esses projetos. O que tem em comum em tudo isso? O conhecimento, que bem aplicado melhora o mundo. Usamos a ferramenta do conhecimento para gerar vida”, resume a ligação da FÓRUM com o Instituto.
Instituto Semearte
“Onde há partilha, há superabundância”.
Luís Cláudio Ferreira
Essa é a frase que norteia o sentimento em fazer com que as ações do Instituto Semearte alcancem muito mais vidas.
Afinal, “só se torna próximo, quem se aproxima”, segundo Luís Cláudio.
Assim, 31 anos depois, mais uma creche para atender, inicialmente, 80 crianças, está sendo construída. O Semearte lidera as obras da nova unidade, desta vez, no Aglomerado da Serra, que fica na zona sul de Belo Horizonte e considerada a maior favela da cidade.
A mesma estratégia adotada para a primeira creche norteia as ações desta segunda empreitada: levantar a estrutura, capacitar a comunidade para gerir os trabalhos, fazendo com que, depois, os próprios moradores assumam o controle permanente das atividades.
“Nosso papel é ser o indutor. Só é possível com o Instituto Semearte, porque poucos fazem esse papel de ser o indutor desses projetos. E isso vem da própria FÓRUM, que é uma praça de debates. O Semearte, nada mais é do que uma praça, onde trazemos os atores para debater e propor soluções para os problemas de uma comunidade local”, esclarece o objetivo do Instituto Semearte.
Na nova unidade, a ideia também é ofertar atendimento às famílias com auxílio de profissionais das áreas do direito, assistência social, psicologia, além de cursos de educação financeira, já que muitas delas não têm acesso a esses serviços.
“Para fazer acontecer nós precisamos ser muito persistentes e corajosos, uma característica ‘emprestada’ da FÓRUM, porque ‘distribuir’ conhecimento num país como o Brasil, é desafiador. Semearte é o papel do semeador. De semeadores de livros, partiremos para semear muito mais vida”, reforça.
O sonho do Semearte já acumula grandes conquistas de uma história que fica cada vez mais robusta.
“A melhor maneira de prever seu futuro é criá-lo.”
Peter Drucker